sábado, 1 de maio de 2010

SORRIA, VOCÊ ESTÁ SENDO SERIGRAFADO


Marilyn Monroe (1967)

Andy Warhol (1928-1987) foi um artista incomum, o que é um dos maiores elogios que se pode fazer a qqer artista. É certamente o único duchampiano que conseguiu sair da sombra de seu debochado mestre & produzir uma obra de brilho próprio.

Cricríticos o entendem mal: Fredric Jameson não compreende nada do que vê em Warhol — mas estou sendo pleonástico, porque Jameson em geral não compreende nada do que vê.

A exposição na Estação Pinacoteca é muito boa, & trouxe um pouco de tudo: as serigrafias (Marilyn, Mao, Geronimo, Campbell's, etc), a instalação das hipnóticas Silver Clouds (1964: alumínio & gás hélio, com vento movimentando as nuvens de prata no alto da sala), filmes como Blow Job, & aquele que filma o Chrysler Building por horas. E mais.


Geronimo (1966)

Estampa excertos de textos & entrevistas, às vezes apenas uma frase cortante & exata, de mordacidade & inteligência a toda prova, através das quais se percebe que Warhol foi realmente o único a de fato compreender o que são os EUA, qual é o cerne da cultura gerada pelo país.


"Sempre achei que políticos e atores resumissem o modo de vida americano", ou quando afirma que mesmo os bandidos se dão bem (sobre a série Most Wanted, em que reproduz os procurados, nesse hábil jogo de palavras), porque o que as pessoas querem são estrelas.

Um capitalista (ou capetalista, como escrevia o demente iluminado do Gentileza) com ponto de vista crítico? Todo esforço de redução de Warhol a algo sem ambiguidades falha miseravelmente, porque não dá conta de recobrir sua arte desconcertante, muitas vezes decididamente grotesca, mesmo qdo. parece adorar o star system.

"Acho que todo mundo devia ser uma máquina", ou "Olhe somente para a superfície, lá estou eu. Não há nada por trás daquilo".

Ambas as coisas são verdadeiras: suprimia espinhas de rostos, porque não é o que vale a pena fixar, & reduz o tridimensional a duas dimensões freqüentemente. Mas é um bidimensional ilusório.

Da série Electric chair (1964)

Por trás — nesse lugar que diz não existir — há uma porção de ambiguidades para o bom leitor. Na série Electric Chair (1964-1965) em que Warhol produz variações de cor & contraste sobre a foto de uma cadeira elétrica, escreve: "mas quando você vê uma foto horripilante muitas vezes ela realmente não tem qqer efeito".

Warhol adota sempre um tom ingênuo & direto para dizer coisas não apenas educadas, mas finamente perceptivas: ele sabe perfeitamente bem que a repetição brutal esvazia as coisas de sentido. É o mesmo mecanismo que emprega inúmeras vezes, & não apenas com coisas horripilantes.

Sua insistência é sempre paródica, deformante, entra no glamour & o desfaz inserindo nele uma tragédia de gestos marcados, de luz direta, de uma crueldade desumana, que mimetiza a publicidade, invertendo-a.

Race Riot (1964)

É engenhosíssimo ao retratar Nixon & nomear a obra "Vote McGovern", em 1972; seu Race Riot, de 1964, é poderoso & ecoa no tratamento que George Romero deu à questão racial no final de Night of the Living Dead, de 1968.


Basquiat



Warhol não foi importante apenas como artista, mas descobriu um dos grandes pintores dos últimos anos, Jean-Michel Basquiat, & não podemos esquecer do Velvet Underground, naturalmente (a capa & o esquema warholiano foi apropriado pelos Dandy Warhols, banda recentíssima. O vídeo de "You were the last high" é cheio de espírito oitentista & de esperto uso de montagem fragmentada, que produz o efeito repetitivo do glamour frio & estranho de Warhol). Apenas para citar duas de suas atividades fora do papel de artista.



Capa de Velvet & Nico por Warhol


Exposição que veio em excelente hora, & deveria ser um modo de começar a fazer com que houvesse um pouco mais de inteligência no modo de entender sua obra.

Nenhum comentário: