domingo, 11 de dezembro de 2011

hymnoi


aujourd’hui, ce qui ne vaut pas la peine d’être dit, on le chante
                                                                                                       beaumarchais, le barbier de seville

I
aperta o cinto, pisa fundo
           a boa vida passará
em 1 segundo. grande crono
           velho corno:
antigo engodo algum
de onde píndaro
          pendia ou implorava
          sua paga
lavo a musa como corça
          com faíscas e canções
de meus pneus [para o alto
          e avante]
quem quiser ser vencedor
          que calce minhas botas,
minha arte,
          antes que,
é evidente,
haja mais de mim, como de um deus,
          por toda parte.

II

dos menelaus levou
os leitos, uma virgem em suas asas
mil éguas incansáveis
e guris em pouco tempo
se atiçavam;
que virtude então teriam
antes da tumba? —
batem bola numa várzea
desgramada
nos torneios onde, após,
três dedos dão mil dribles
de mil dólares
toque rápido e
sentindo o mel
de alguns milhões
dão chapéu nesta miséria.

III


voz de esquinas e bibocas
metálica na máquina idiota:
          bem supremo
o ser mortal
          de tão porca melodia;
glorioso meio hino de lampejo
          no quintal: um deus alegre
protege sua prece
          a implorar celebridade,
matraca de concurso
          de discurso
de jornal
          não larga a isca que lhe deu
a mão risonha
          em meio às nuvens:
a chave da cidade,
          sobre um burro,
o animal.

IV

num garfo vê tridente
entre outras coisas
           um vidente
à beira de alva praia
se confunde, “será vênus
          ou tritão”,
uma vulva ou
          grande arpão; dado
de aposta, sabe o vento com saliva
          no seu dedo,
                           búzios ou brinquedos
o levam oportuno a miami
neste mau “porvir azedo”
          um casado, outro morto
“sei dizer, quando me deito”
          pois depois um livro inteiro
psicoimportado
          “dois ou três, verdade mesmo,
sofrem acidente ou feio dano
          neste ano
danado”,
          quod scripsi, sempre a esmo.

V

do monte pó e com rajadas
soberano; glória aguda
como o morro de onde mata
          e quer a morte amante;
belo enfeite as dez correntes
          de ouro x quilates
reluzindo na metranca
sobre o ombro calejado.
quem o ouve diz que é como
          júpiter à noite: caem
raios — todos falsos —
          mas fulminam.


VI

tânatos te teve em tetas,
          distintivo: detectando, delegavas
uma senha pro banquete
          ou pro boquete
aquece ao sol à tarde
          a boca rubra da sereia
que berra como louca no capô
          a noite inteira:
éter, porre de sujeira,
          vai com calma, coração!
cruzar dois ossos na caveira
—eloqüente, a velha lei— e
          me passa a escarradeira.

VII

acocorada de tão
          flamante coma
                         desdourada
grande olympia
          se banhava: tem o cetro
de sua casa, mas colhia só galinhas
          no espelho arredondado

que fascínio festejar?
          que espora
                         põe o corpo a se lembrar
da antiga chipre?

olhos glaucos,
          para homens e crianças
louça à tarde
insônia, noites frias
pratos quentes
          e palavras
                         e palavras
como a cara
amorphophallus acabando no quintal

agora cala quando sobe
em um sorriso
                         eis adônis
                                   nada mau

2 comentários:

gilson figueiredo disse...

dirceu, essa coisa de manipular elementos clássicos n'1 poema sem com isso repetir uma busca pouco inteligente do ideal de beleza clássico é terrivelmente belo. parabéns pelo poema.

Lucas Petti disse...

Imagens poderosas, acidez, belas proporções... Parabéns! Gostei muito do poema.