sexta-feira, 4 de novembro de 2016

R$ 37.476,93, BRUTO

Oitavo mês,
Ano I do Golpe de Estado: ditadura de MiSheLL Temer


Na verdade ele está triste


O que vocês lêem no título desta postagem é o valor bruto que recebeu, no mês de outubro, como ministro do Supremo Tribunal Federal, o juiz Enrique Ricardo Lewandowski, o que se pode achar no portal de consulta de remuneração do site do STJ. Nem estamos falando, por exemplo, que Lewandowski também é professor da USP.

Ele, no entanto, parece achar tudo isso pouco para as despesas.

Como noticia o site Brasil 24/7, Lewandowski defende o aumento de seu salário com o seguinte argumento: "não há vergonha nenhuma nisso, porque os juízes, no fundo, são trabalhadores como outros quaisquer, e têm seus vencimentos corroídos pela inflação"; "Condomínio aumenta, IPTU aumenta, a escola aumenta, a gasolina aumenta, o supermercado aumenta, e o salário do juiz não aumenta? E reivindicar é feio? É antissocial isso? Absolutamente, não".

Isso dá o que pensar.

Consideremos: o salário mínimo praticado atualmente é de R$ 880. Segundo o IBGE, no Censo de 2010, mais de 46% da população trabalhadora do Brasil ganhava no máximo 2 salários mínimos. Quem ganhava 5 salários mínimos não chegava a 6% da população.

E nós nem mencionamos a quantidade bizarra de gente sem vencimentos de espécie alguma. O desemprego, sob o golpista, chegou a 12 milhões de pessoas nos números oficiais.

Ahora bien, eu julgo que essas pessoas também "têm seus rendimentos corroídos pela inflação"; acho que também para elas "condomínio aumenta, IPTU aumenta, a escola aumenta, a gasolina aumenta, o supermercado aumenta". 

Ou não? Ou algo me escapa?

O mínimo que se pode dizer da disparatada & graciosa declaração do juiz é que está em franco contraste com qualquer definição, por menos filosófica que seja, de realidade. 

Por que, de fato, o ministro Lewandowski teria qualquer vergonha ou acharia feio pedir ainda mais para si, uma vez que há tantas despesas para o seu limitadíssimo salário líquido de R$ 24.062, 21?

O único que consigo imaginar seria de natureza ética. Imaginemos alguém consciente da abissal desigualdade no país, & que ganhasse perto de 40 mil mensais, no bruto. 

Essa pessoa deveria realmente sentir uma bruta duma vergonha de querer aumento de um centavo que fosse. Deveria, eticamente, repensar os próprios ganhos & considerar seriamente reduzi-los, iniciar campanha para esse efeito, se preciso. Sobretudo se o governo, além de golpista, vem cortando dinheiro de políticas sociais essenciais para os mais pobres. Congelando gastos em saúde, educação & cultura por 20 ditatoriais anos.

Esse pudor, ou vergonha, é o que se chama comportamento ético, aplicado à coisa pública. 

Mas, como lemos na velha frase de George Orwell, "uns são mais iguais que os outros": deve ser essa a lei que o juiz conhece tão bem, em sua estratosférica, suprema igualdade, dentro do contexto de quanto tem para tentar sobreviver a maioria esmagadora dos brasileiros.

Democracia, isto é, governo do povo; plutocracia, ou seja, governo dos ricos. 

O vosso demônio pergunta: qual dos dois casos vocês aí acham que é o do Brasil?

Nada feio, juiz. Justíssimo, o seu aumento. Inteiramente condizente, na opinião deste poeta, com o tipo de governo instalado neste país. 

Mas talvez o melhor jeito mesmo seria perguntar ao juiz quanto acha que deveria ganhar, se os R$ 37.476,93, no bruto, estão assim defesados, a ponto de comprometer-lhe a vida. 

A gente certamente não quer que um juiz do Supremo viva na miséria. E o brasileiro - como eles sorrindo sabem - é um povo obediente, dócil.

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