sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Grassmann & a arte no Brasil

Marcelo Grassmann; acima, uma de suas numerosas & magníficas gravuras

Alguns meses atrás soube que havia um projeto, que se desenvolveu em uma caixa de várias gravuras originais de Marcelo Grassmann, disponível para colecionadores & para museus.

Soube, igualmente, que nem colecionadores nem museus se apresentaram para comprar. Paulo Grassmann, sobrinho do gravador, empregou até mesmo um texto meu dizendo (& lá vão anos) sobre o absurdo desconhecimento da obra ímpar.

Q EU não me apresente para comprar, q não tenho dinheiro, é nada além de perfeitamente natural: q museus & colecionadores não se apresentem, c'est pas normal.

Este é o link útil para os q querem ver mais:

http://marcelograssmann.blogspot.com/

Grassmann não é um dos maiores gravuristas brasileiros, mas do mundo. Sua imaginação já é patrimônio comum da nossa imaginação.

Lembro de ver Grassmann no Museu Lasar Segall, onde foi falar de seu trabalho para uma vintena de estudantes de gravura: levou uma porção de seus trabalhos recentes, q passava sem nenhuma cerimônia de mão em mão.

Reverente, eu tomava um cuidado de ponta-de-dedos com o material, para mim, tão importante, & era inacreditável aquela obra extraordinária ser manipulada com tanta generosidade pelo mestre gravador, q ao mesmo tempo respondia a variadas perguntas de um monte de jovens.

O caso não é APENAS com Grassmann: o excelente pintor Arnaldo Vieira morreu, há poucos anos, quase inteiramente anônimo; Enio Squeff, outro grande pintor, vivíssimo, é conhecido de uma pequena entourage de amigos, artistas & este ou aquele que lhe comissionam obras.

Etc. (& esse etc. não é o efeito retórico da amplificatio).

Brecheret, para irmos mais longe, não tem nem 1/2 do reconhecimento público q uma obra fundamental como a sua deveria ter. Seria necessário ter brochuras baratas, com boas reproduções de suas esculturas, como qqer. país minimamente civilizado tem de seus artistas mais importantes.

Samson Flexor, Eliseu Visconti et ainsi de suite.

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Li coisas muito interessantes de poesia recente. André Dick lançou Calendário, novo livro de poemas. Isto:

uma rosa em depuração, ainda
contra o rosto em retrospectiva:
o rosto cresce,
crescem os bancos do jardim,

cresce a rosa sobre eles.

é uma coisa bela & engenhosa, q chama púrpura em pureza, q usa com cuidado a estrutura anafórica em crescendo, espelhamentos verbais sutis.

Priscila Manhães escreveu um poema, "Hóspede", onde lemos uma ausência q é presença, &:

Tem ocupado seu lugar ao lado de outras sombras.
Uma falha no sangue, esboço tenaz.
Algo que não consigo isolar ainda que o intente.

É rápido e fugaz, sem pressa.
Simples como a noite é simples,
Quando a noite cai com sobriedade.

a palavra refaz o fantasma como um pequeno feitiço, mas:

Ele, então, brilha um instante, ondea e se dissipa

Observação detida, inteligente, em gradações refinadas. O poema completo se acha aqui:

http://diasdevoragem.com/2010/06/18/hospede/

O Demônio fará pausa (preguiçoso, o Demônio, & a preguiça é um dos sete pecados capitais) & volta num piscar de olhos.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

BOLAÑO DIZ


Pergunta: Que coisas te aborrecem?

Bolaño: O discurso vazio da esquerda. O discurso vazio da direita já é de se esperar.

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Essa eu devo ao Thiago Lins, dos que cheiraram cocteau. E a entrevista do Bolaño é uma das melhores q já li (incluindo algumas do Woody Allen). Abaixo:

http://estrelaselvagem.wordpress.com/2010/05/20/a-ultima-entrevista-de-roberto-bolano/